15/02/2022 08h45 - Atualizado 15/02/2022 08h45

Artigo- Nair e Dana de Teffé

Por Terezinha
para IARGS
Artigo do Dr Marcus Vinícius Antunes, advogado, associado do IARGS,
professor de direito constitucional, pós-doutor pela UFRGS
Tema: Nair e Dana de Teffé
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Frederico Guilherme von Hoonholtz, nobre prussiano, foi recrutado como mercenário a serviço de D. Pedro I, chegando aqui em 1824. Teve muito destaque como militar e empresário. Seu filho, Antônio Luís von Hoonholtz, herói da Guerra do Paraguai, foi agraciado com o título de Barão de Teffé, em 1873, pelo Imperador.
 
Nasceu então o sobrenome Teffé, envolvido em dois episódios rumorosos no Brasil. O primeiro, que já referi em outra parte, relativo à recepção que Nair de Teffé, filha do Barão, deu a representantes diplomáticos no Palácio Presidencial, no final de 1914, para despedida de seu marido Hermes da Fonseca. Nair executou ao violão um maxixe, o Corja-jaca. Isso valeu o irado discurso de Rui Barbosa, no Senado (talvez ainda ressentido da derrota sofrida em 1910, diante de Hermes da Fonseca): “Mas o “Corta-jaca” de que eu ouvira falar há muito tempo, o que vem a ser ele, sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o “Corta-jaca” é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!”. Dana era mulher à frente de seu tempo e o assunto foi tratado como escândalo pela imprensa.
 
O segundo episódio, de romance policial, encarnado por Dana Fischerova, tcheca, rica, considerada belíssima. Casara primeiro na Itália, com Ettore Muti, político fascista; na Espanha, após a separação, com Alberto Díaz, dentista de notoriedade; e, novamente separada, casou-se no México com o jornalista Carlos Denegri. Então, depois de mais uma separação, chegou ao Brasil.
 
Aqui conheceu Manuel de Teffé, diplomata e piloto automobilístico, neto do Barão. Passou então a ser Dana de Teffé. Casou-se com ele. Tempo depois, Dana contratou Leopoldo Heitor, já com a alcunha de Advogado do Diabo, para fazer seu desquite amigável. Entre outras acusações, pesava a de peculato, motivo por que se homiziara por três anos na Argentina. Com indícios de uma relação amorosa entre ambos, Dana o nomeou procurador para administrar os bens. Pouco depois, 30 de junho de 1961, com 40 anos, desapareceu e o corpo jamais foi encontrado. Seu desaparecimento se deu na Via Dutra, quando viajavam para São Paulo. Heitor vendeu imóveis e joias e passou a ostentar um novo padrão de vida.
 
Foi processado por latrocínio. Houve três julgamentos, chegou a cumprir prisão, fugir, e ser recapturado, antes do trânsito em julgado de uma condenação, durante os quais ofereceu três versões distintas e opostas. Condenado no primeiro, absolvido no Tribunal do Júri, embora, por muitos indícios, presumível a autoria, com a tese de falta de materialidade do delito. No terceiro julgamento, em Rio Claro, cidade onde era muito conhecido, Leopoldo Heitor fez a própria defesa e foi absolvido no Tribunal do Júri, por 4 a 3.
 
O cronista Carlos Heitor Cony volta e meia relembrava o caso em suas colunas. Em alusão aos vários mistérios insolúveis do Brasil, repetia o bordão: “Onde estão os ossos de Dana de Teffé?”.

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